O estranho caso dos “suicídios” na PSP
O secretário para a Segurança continua sem explicar o que leva a que as polícias de Macau se pronunciem desde a primeira hora pela tese de suicídio dos seus agentes, após duas mortes em Março. Coutinho pediu fundamentos.
O secretário para a Segurança não esclarece o que levou as polícias de Macau a concluírem pela tese de suicídio dos dois agentes que faleceram em Março último, com as duas mortes a ocorrerem no período de apenas uma semana, mas insiste na ideia de que os profissionais de segurança terão posto fim à vida.
O pedido de satisfações foi feito por Pereira Coutinho, que em interpelação escrita afirmava que “muitos cidadãos continuam a estranhar as causas do falecimento de jovens agentes, não obstante o aumento anual das FSM [Forças de Segurança de Macau] e do número de efectivos, o maior investimento na formação permanente e contínua, o melhoramento dos equipamentos e a actualização salarial” dos trabalhadores.
O deputado perguntava pelos “fundamentos e base científica” para a conclusão, “logo no dia seguinte” à morte do agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) que foi encontrado sem vida a 22 de Março junto a um queimador de carvão, de que estaria em causa um suicídio motivado por problemas pessoais. No mesmo mês, o cadáver de outro agente da PSP foi encontrado no reservatório, com a Polícia Judiciária a adiantar desde logo que o homem teria posto termo à vida.
Na resposta a Coutinho, o chefe do gabinete do secretário para a Segurança, Vong Chun Fat, não dá conta dos fundamentos exigidos e continua a referir-se ao “caso de suicídio” com respeito à morte do agente falecido a 22 de Março.
“O CPSP tomou em grande consideração o referido caso, os dirigentes procederam a uma reunião urgente, para além de manifestarem o lamento, ainda ordenaram uma averiguação interna no sentido de saber o motivo da ocorrência do caso”, afirma o gabinete de Cheong Kuok Va.
“Panela de pressão”
De acordo com a resposta, a averiguação foi promovida “em diversas vertentes”, e atendendo a que, “antes da prática, o suicida vai revelar certos indícios nos seus actos e nas suas emoções”. O primeiro passo, revela-se, consistiu em indagar junto dos superiores e colegas sobre o desempenho dos agentes. São também factores de análise o relacionamento que este mantinha com os outros, a escala de serviço, o planeamento do trabalho, eventuais sanções disciplinares ou registos de pedidos de apoio emocional.
“Em princípio, podemos definir que o suicídio deste agente policial não se encontra relacionado com o desempenho de trabalho, mas sim, com maior possibilidade, ser relacionado com factores externos, como por exemplo a sua vida particular, de família”, concluiu o gabinete, que inclui na lista de procedimentos de averiguação também o exame médico-legal e perícias ao local do óbito e produtos deixados. Os exemplos são citados sem que seja confirmada a realização de autópsia no caso do agente que morreu a 22 de Março.
Pereira Coutinho dava conta também de queixas de jovens agentes das FSM sobre a falta de canais internos da comunicação e resolução de problemas. “O acumular dos problemas não resolvidos só gera permanentemente descontentamento entre os agentes e funciona como ‘panela de pressão’ que pode ‘arrebentar’ a qualquer momento e quando menos previsto”, escrevia o deputado.
Fonte:Ponto final Macau